Hoje, pela primeira vez em pelo menos quinze anos, tomei vitamina de abacate. Parei ainda quando criança, trauma por conta de uma dor de estômago que ainda me lembro como foi. Era minha vitamina favorita, e comia abacate de todo jeito possível até a dita dor. Voltei a comer presunto também, parei por motivo semelhante. Aprendi a gostar de carne moída, me apaixonei por brócolis (mesmo) e dei uma chance à abobrinha refogada, assim como dei segunda chance ao pirão de carne (agora pretendo me acabar no pirão de caranguejo), o que há mais tempo também aconteceu com a buchada de bode.
Nesse ano me travesti de Jim Carrey em Yes, man! e disse sim para muitas coisas que enfatizava nunca (mais) fazer, até então (como dançar forró, por exemplo). Porque querem saber? Não sou obrigada. Nem por mim mesma. E digo isso não só para ilustrar as mudanças nesse interessante 2015, mas porque tenho visto uns vídeos e presenciado posicionamentos meus e de outros que me incomodam.

Tenho procurado estudar o que realmente gosto nas horas vagas do meu dia para não me esquecer de quem sou nem para onde quero ir, porque a ideia de focar apenas no trabalho ou no curso técnico (que pouco ou nada tem a ver com minha sonhada carreira) me atormenta e, por mais que seja uma área digna de ser criativa e pensante, me faz crer que posso me alienar e robotizar, etc.
O estudo de hoje foi sobre Sócrates porque sim - vejam só, estou fazendo o que ele detestaria que é não saber explicar o porquê -, aliás, porque quis complementar um filme dele de 1971, uma palestra do ano passado, e livros a serem lidos no futuro, ou simplesmente porque ele é incrível.
Esse vídeo me fez postar no facebook e, quando obtive um like fiquei pensando na parte em que é dito que seguimos pessoas "importantes" porque acreditamos que elas sabem o que fazem. Que nós, humanos, somos como ovelhas, nos é confortável seguir a massa, logo, desconfortável seguir só. Percebam que o entrevistado comenta que, dada sua posição contrária à chefia, se sentiu confuso e questionou-se "será que estou errado?". Acho interessante a relação que Sócrates tem com a democracia, inclusive lembrei de comentários referentes a maioria e minoria que muito podem ser explicados com esse posicionamento dele diante dessa questão de quantidade e qualidade.
Mas voltando aos likes, será que essa busca por likes e seguidores nos atuais meios de comunicação da internet é justamente a falsa crença de que deixamos de ser ovelhas (massa), e nos tornamos um tipo de pastores, seguidos, obedecidos, curtidos, adorados, aplaudidos? Porque momentaneamente, até o post sumir no feed de notícias, acreditamos com esses likes que estamos certos, legitimamos opiniões - que podem ser rasas e com (graves) falhas, como é dito no vídeo - e as conservamos porque todo o júbilo que conseguimos não queremos perder, afinal em time que está ganhando não se mexe. E no fim das contas, será que somos sofistas? Será que nos importa mais o reconhecimento das nossas ideias como viáveis do que uma maior proximidade com a exatidão e/ou maior distanciamento do erro? Porque sofisma - e um sofista tentou defender Sócrates - é mais um belo e convincente discurso do que um discurso comprometido com a verdade.
Quando compartilhei o vídeo, disse que não só deveriam vê-lo os reacionários e conservadores de uma maneira geral, mas nós mesmos que nos consideramos de esquerda. Porque de que adianta replicar discursos sem antes interpretá-los, analisá-los, refletir e logo depois atualizá-los? Como diria vovó Dijanira, "o mundo anda e desanda", ou seja, vivenciamos mutações constantemente, tanto na vida em grupo como na vida individual, seja isso em questão biológica, política, social, econômica, cultural ou, nesse caso, em questão de pensamento.
(Toca Raul!)
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Então, por mais que continuemos com a mesma base de pensamento, este sempre será enriquecido (espero) com a auto-análise e o confronto de ideias. Como bem sabemos na história (isso é preciso ser estudado e reestudado sempre, viu, historiadores?!), é impossível voltar literalmente ao passado, então, por mais que haja uma releitura de texto, um filme reassistido, uma música ouvida no repeat e, mesmo que tenhamos trechos decorados, cada momento é único. Cada sensação ou percepção é singular, e o máximo que teremos do que passou são representações, longe de serem o momento em si, genuíno. São réplicas falhas e anuviadas pela lembrança. Talvez por isso mesmo Epicuro (me apaixonei por este homem, espero que se apaixonem também), tema do vídeo a seguir, defendesse tanto o relembrar o que aprendemos, para não esquecermos:
No final das contas, o que tudo isto busca é que reveja seus conceitos, parça. É bom voltar atrás, quando é necessário. Assumir erros, começar de novo, tentar outra vez. Voltei a dançar, descobri que gosto de legumes, reconquistei lembranças queridas do passado e sensações de infância só no dar uma nova chance a coisas que deixei para trás. Conheci pessoas bacanas a partir desse abrir-me para o mundo, desse dizer Sim, senhor! para a vida.
O progresso depende do movimento, não é possível mudar nada estando parado, não dá para avançar sem algo novo, se constrói acrescentando novas peças e retirando as danificadas. É bom parar pra pensar e fazer uma limpeza nas ideias, como se a cabeça fosse um cômodo apinhado de coisas desorganizadas e precisasse de uma faxina. E mesmo que pouco mude, haverá um estudo do que se tem e os discursos de defesa de ponto de vista ficarão melhores e mais respeitosos. Sempre se aprende, mesmo com o que se já aprendeu.
(Só mais um pouquinho de Raul)
Tente!
Levante sua mão sedenta
E recomece a andar
Não pense
Que a cabeça aguenta
Se você parar
Não! Não! Não!