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Channel: um velho mundo
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Simples e livre como um pássaro

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os 7 cabeludos topper no encarte de Nuthin fancy, 1975.
Tenho a mania de dizer que esta ou aquela é minha música favorita, tanto que minha last.fm somou 1.383 faixas com o coraçãozinho marcado. Todas elas o são por algum motivo. Aliás: todas as músicas que ouço são ouvidas por algum motivo. Não sei ouvir sem auxílio da memória, de lembranças, e talvez por isso seja tão difícil para mim aceitar lançamentos, e tão fácil amar hoje o que odiava em 1996.

Esse post está saindo antes do que um que deixei em rascunho semana passada, mas imagino que será mais curto e simples, então bora lá.

Em algum momento na minha vida me apaixonei por duas músicas do Lynyrd Skynyrd, ambas do disco que nos ajuda a dizer o nome da banda: Pronounced Leh-Nerd Skin-Nerd (1975). Mas assim: me apaixonei mesmo. Porque, assim como as músicas do próximo post, ou talvez mais, elas me colocam nos eixos daquilo que decidi que sou, fui e vou.
'Cause I'm as free as a bird now
And this bird you cannot change

Free Bird
Aquele tipo de melodia e letra que nos faz observar o horizonte com a vista embaçada lembrando momentos aleatórios da vida, sobretudo da infância, que parecia causar emoções mais puras e intensas. Me lembro de passear com meus pais e, na volta, observar a cidade à noite e sentir um profundo medo da imensidão da vida e acabar caindo no sono. Lembro das promessas da adolescência de nunca, jamais deixar os "adultos" provarem estar certos sobre todas as vezes que me diziam "isso passa", "eu também pensava assim", "as coisas não acontecem desse jeito", "é só uma fase" e n desmotivações e conselhos que eu ouvia engolindo um ódio descomunal que sinto até hoje. Porque, veja bem, sou muito rancorosa (ou, melhor dizendo, minha memória é boa até demais para situações desconfortáveis que lembro limpidamente de angústias desde 1995) e pior (ou melhor): quando me dizem que não posso algo, dou um jeito de poder. Porque não acredito no impossível e não admito que me digam que vida devo levar.

Versão ao vivo com a formação original da banda 3 meses antes do acidente
[observem esse solo de guitarra pelo amor de deus]

Escrevendo aqui me dei conta de certas coisas que me seriam impensáveis na adolescência, que são questões meritocráticas, sociais, políticas, econômicas, e tudo aquilo que discutimos seriamente (ou não) todos os dias. Mas não é bem por aí que gostaria que vissem o que essas músicas me trazem. É bom analisar sob todas as formas, mas a de hoje não é essa. É questão mesmo de quando você se deixa levar pelos outros e se cala para o conforto da família, dos amigos, dos colegas de trabalho, do que é "normal"; de se prender a pessoas e situações pelo que os outros vão achar. Nos calamos em vários momentos da vida, mas há diferença entre se calar apenas por calar, e se calar para fazer suas coisas do seu jeito sem alardes e obter êxito caminhando por atalhos no que for possível, provando assim que aquilo era realizável, etc. É sobre princípios, ideais, e essas coisas.
Oh, be something you love and understand
Simple man
Até porque, sempre tento me lembrar de que a vida é uma só, e se tem uma pessoa que nos acompanha nela 100% do tempo, até a morte, somos nós mesmos. Viver o que o outro espera não faz sentido, nem é saudável. E para eu me dar conta de que ainda sou eu, e poder reavaliar o que fiz e farei, são essas músicas que ouço. São momentos de reflexão e, até o momento, satisfação. Essas duas músicas são como alguém me perguntando se está tudo bem, e eu respondendo com a sinceridade que não tenho para quando sou perguntada: é, está sim. Foi assim que não desisti daquilo que acredito, e em vez de deixar isso pra lá, com tantos péssimos conselhos que existem por aí, eu simplesmente busco maneiras e argumentos para me provar. Para mostrar que sou possível, que sou assim e que quero as minhas coisas assim. Podia melhorar, claro. Mas aí a questão já será mais política e para outro post.


versão de estúdio, 1973


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