Acho que fiquei meio mal porque meu amigo se formou e colou grau, e agora é bacharel. Não que eu esteja triste por ele, estou deveras orgulhosa, porque sei um pouco do que ele passou até aqui, e porque finalmente tem o título almejado.
Por escolha não quero colar grau nem serei bacharel, mas licenciada. Licenciada pelo desespero de entrar na faculdade logo, já que era o que muita gente acreditava que eu fosse fazer, inclusive eu mesma, então não queria decepcionar ninguém, mesmo com o bacharel ficando cada vez mais longe de mim. Eu via pessoas que não imaginava que fossem tentar o Ensino Superior entrando nele, e não queria não tentar.
“O que quero é História, definitivamente” - pensei, então Licenciatura não parecia de todo ruim. E não foi. Foi praticamente maravilhoso, só não foi totalmente pela parte pedagógica da grade, justamente o que a Licenciatura exige; aprendi muito com as disciplinas, mesmo aguentando-as – ainda hoje – como um martírio infindável.
Me pergunto se estou fazendo certo em não querer colar grau agora... Acho um evento extremamente desnecessário (e chato, e brega), mas tem um significado simbólico que explica sua existência. Se eu não me importasse necessariamente com isto que chamo de brega, não teria ficado mexida com as fotos postadas por meu amigo.
Talvez eu não queira colar grau porque é uma despedida de fato, pública e memorável: com direito a certificado de despedida, que equivale ao anel do Papa e/ou governante que amassa a cera que lacra o documento. A colação seria, pra mim, justamente isso: o colar, o lacrar um período – ínfimo, curtíssimo para a História e para a minha vida – que eu gostaria que não acabasse. Gostaria que não acabasse a ponto de querer refazer as disciplinas do F., quando a S. lembra para os alunos do 2º/3º semestre (que dividem sala comigo alguns dias da semana) que eles ainda terão tais disciplinas. Coisa que já aprendi – mas não sei 100%, nem nunca saberei – mas que se fosse pra viver em loop, não reclamaria. Porque aprendi algumas disciplinas antes de outras, e as de agora explicam as que vi lá atrás (fiz, nessa ordem: 2º, 1º, 4º, 5º, 6º e, agora, 3º semestre), e trazem consigo uma nostalgia tremendona. Eu meio que invejo esses caçulas do curso (a maioria com mais idade que eu, mesmo assim), por ainda terem curso. Por ainda terem aulas e apostilas e dicas de livros e filmes, e piadas inteligentes e inesperadas (por mais que muitos não dêem valor a essas coisinhas).
![]() |
Corredor |
A rotina de acordar cedo, chegar nas Montanhas com a Carolina (ou a Carolina com as Montanhas?), subir as infinitas escadas reclamando do pessoal do outro curso que senta nos degraus e não tá nem aí, chegar na sala e caçar uma cadeira que não tenha gente nem bolsa – e que seja uma cadeira com braço reto, de preferência baixa e toda da madeira mais antiga –, antes ou depois do professor. Anotar tudo o que se coloca na lousa e o que se diz e pensa em meio a flechas (tão ou quase tão numerosas que as dos arqueiros das guerras medievais, talvez), alternando com desenhos (coisa que há muito tempo não faço por divagar cada vez menos). Descer para o intervalo e ver gente (ver significa falar, mas acho que nesses três anos ninguém entendeu, ou não fiz entender), e saber que sabem que o pedido é “um café com leite, por favor”, porque esse é o pedido de sempre. Subir do intervalo e escrever e desenhar um pouco mais, e no fim odiar aqueles que interrompem a aula pedindo a chamada pra sumir dali. Odiar como se fossem hereges, porque qual é o maluco que quer que essa aula se acabe? Um ódio passageiro claro. Daquele que volta todo dia, na mesma hora, no mesmo canal, mas passa.
Vista de uma das janelas |
E na volta pra casa uma vontade de sair pesquisando tudo o que vem pela frente, como um vento que te impulsiona e te leva pra onde ele quer. Mas que vai se sumindo aos pouquinhos nas divagações do ônibus, que viram cochilo, e depois preguiça, depois desânimo. Mas que retorna todos os dias (exceto os dias pedagógicos, enfatizemos).
E daí que faltam duas semanas de aula. E duas de prova. Não sei se me formo esse semestre porque o desânimo citado acima não some quando o assunto é atividade complementar e estágio, então é claro que não completei essas etapas. Mas, me formando ou não, eu realmente não queria que isso acabasse. O que vem depois? O que eu quero que venha depois? Porque eu me pergunto e daí? Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar e eu não posso mais ficar aí parada.